quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

caminho

Errei o caminho, o lado certo,
Reparo o bom pedaço,
Desfeita a rede.

Insisto.
Em parte não cabe o total desejo interrupto.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Perdido

Muito perigoso ainda e quando mais tarde, mais frio  se instala lá' fora, mais sozinho o percurso e estreito o caminho, mais no fim que no meio, quando uma pedra e a selva escura não clareavam a lista direção ao sol.
k

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Paraiso perdido


A arvore da vida  
E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Gênesis 2:9

Qual e’ o papel da arvore da vida no plano de salvação, da redenção?

Nela se concentra o conhecimento do futuro, interdito aos mortais, nela se articula a fala universal, o dito profundo, o indizível, limitada no individuo, ela concentra o objeto do desejo e do saber, nela se expõem, ao sensível, a dor e o sofrimento, que se somam o bem, a beleza e a verdade, a alegria e a felicidade, na historia dos homens,  seus ganhos e perdas.

Expulsos, tentamos troca’-la, uma arvore por uma torre, de babel, uma obra que tenta ( re) unificar o disperso, busca atingir os céus, desafiar a decisão divina. Mas mais forte e’ o mando de Deus, que lançou a cizânia e a discórdia entre os homens, inimizados por diferenças e valores. Espalhados pela terra, reconstruímos, com ou sem acordo, novas cidades e destinos, ocupamos cada grão de plantio e floresta, cada nova rua e muralha. E muitos fomos, de guerra e paz, insatisfeitos com a perda original, injusto ato do senhor a adão e eva e a todos os seus descendentes, incapazes ainda hoje que somos de reunir o universal sentido.

Tem forma esta arvore da vida, seus frutos ainda guardados, desfeitos pelo chão, aguardam

Mineração



Careço, da reconciliação,
A pedra partida.
O veio estendido, esquivo,
Pela terra mergulhado, escavo.

Submeto a tradição,
ao espanto do dia,
`a luz esmaecida.

Enfrento sem convicção.

Lamento.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Vontade

Fala a macia espera da tarde,
Diz o momento certo, na calada, na juntada, na mesmice espera,
Diz. Prediz.
Lamento, mas há poucas sementes na terra.
Ou nenhuma,
maior a vontade,
maior a desilusão.

domingo, 9 de novembro de 2014

sentimento do mundo

sentimento do mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista que habitavam a barraca
e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Carlos Drummond de Andrade

1940

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O CARRINHO DE MÂO VERMELHO


tanta coisa depende
de um

carrinho de mão
vermelho


esmaltado de água de
chuva

ao lado das galinhas
brancas.


william carlos williams

trad. jose carlos paes

sábado, 13 de setembro de 2014

Linhas


Imagine.
No canto da sala,
esvai o suor e o doce cheiro da noite
invade a varanda e os quintais.

Desmanche
A renda incompleta, os laços e as fitas, dobradas.
O risco de carbono 
azul, escorrega
Do bordado, do colo da mulher.

Invente
Outro projeto, sentido, outro lugar, 
quando,
Sobraram poucos pontos a
Costurar.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

o meu amor

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. 
Pouco importa onde vai no tempo dividido. 
Já não é meu amor, todos podem falar-lhe. 
Ele já não se recorda. 
Quem de fato o amou e de longe o ilumina para que não caia?


rene' char

 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Enfim



Aceito a hora,
A pressa,
O contido desejo da chegada.

Desprezo a noite fria,
O alento e as damas, da noite,
Inebriando o corpo exangue.

Intimo tua voz,
Ao desembarque esperado,
enfim!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

encanto


me pergunto, 
saberei a hora da verdade, o tempo que resta, o dia que acorda,
claro e brilhante?
sem gosto, sem jeito, sem dor.
irei encontrar a porta da chegada, o mês da primavera
o abril de outros, e dos lilases.?
e, finalmente, na cova santa, dos leões,
pela curva finda da pergunta, com o jeito frouxo da gravata,
dobrarei a massa linda da montanha azul.

duas vezes dez, três vezes oito, 
uma multidão espirra seus sonhos e ilusões, pedra a pedra 
nas ruas do encanto e da solidão,
quatro vezes.


abril 2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Stevens 4

Foi quando eu disse,
Não existe essa tal de verdade,
Que as uvas pareceram maiores,
A raposa saiu correndo de sua toca.

Wallace Stevens

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Viver

-->
Onde as forças e o espirito,
Onde os desejos,
           Os beijos,
           Os maduros queijos.

Quando sem fins e meios,
Quando de lado,
                 Desafio a corda,
                 O doce de leite e os quintais.

Despejo o sol e a gasolina,
Em toneis,
Em longa mangueiras,

E lanço a chama e a explosão.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Alegria

E no fino muro que os separa,
O construtor deixou uma estreita fresta,
Onde, muito contente no descontentamento,
Uma alegria que luta consigo mesma_
Morre para uma vida mais intensa.

Coleridge

terça-feira, 27 de maio de 2014

infinitos

-->
Tudo os Deuses dão, os infinitos,
Aos quem amam, por inteiro:
Todos prazeres, infinitos,
Todos pesares, infinitos, por inteiro.

Goethe

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Além 2

Sobram partes, troços e pedaços,
linhas e alicates,
restam pequenos gestos, incompletos.
Depois,
Quando ditos e falados,
Se acumulam, do outro lado,
Inúteis guardados.

Ao lado da caixa,
vasculho ao fundo,
sobras deixados ao gosto
e `a redenção.

domingo, 27 de abril de 2014

Paraiso1

A partir de agora minha visão era ainda maior
Do que nossa linguagem que não estava `a altura,
E a memória cede lugar ao inaudito.

Paraiso
Dante

sexta-feira, 21 de março de 2014

Stevens 3

Para o ouvinte, que ouve na neve
E, nada sendo, nada  vê  do que
Ali não está e vê o nada que esta'.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Reparação e retorno

Pergunte-me da minha volta, da data do meu retorno, do dia e da hora da chegada do meu trem, das horas da aterrissagem do meu avião e qual o portão, qual a saída que figurara’ o seu corpo e seu chapéu, encantados, diga-me logo, que já’ nao suporto mais a tua espera, a tua ausência.
No infinito, nada se reduz como a um fim de tarde, em longos tons de vermelho, e ao gosto azedo, agridoce de seus desprezos, infelizes, repetidos. 
Desagradáveis.
Incontáveis.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Vida


Perdido um ano,
ganha-se um outro afinal. 

Desfeita a glo'ria, o sucesso, a ambição,,
me imponho a modéstia, o jeito humilde de cada manha,
o estreito caminho de toda tarde, 
a limitação da curta palavra.

Perdido o encanto e o tento,
o esforço e a louca vontade,
desfeita a linha e o traço, condenado.


Supera-me.