terça-feira, 4 de agosto de 2020

armazens do ibc

Os armazéns do IBC


O extraordinário do cotidiano e’ superar o próprio cotidiano

Henri Lebfreve

 

Um poeta alemão, no século XIX, nos alertou:

Onde mora o perigo, também mora a salvação.

As cidades, suas construções, bairros, eventos e pessoas, se transformam com o tempo. Vitória e Jardim da Penha não são diferentes. Frutos, seus desenvolvimentos, nos últimos cinquenta anos, da expansão do projeto industrial/ portuário de Tubarão, da instalação da UFES, e deslocamento da população para o continente, encontram-se, agora, cidade e bairro, em um impasse, em um limite, diante do covid 19, mas também das conjunturas sociais e econômicas, que se alteraram profundamente nos últimos anos.

De um lado, o bairro não mais recebe um excedente de população, jovem e migrante, que lhe injetou, durante décadas, animação, vida coletiva e modernidade, e antes, percebe-se um consequente envelhecimento populacional.

De outro lado, a inevitável redução da importância do projeto exportador impõe `a cidade e aos seus moradores, um esforço de invenção de um projeto alternativo econômico, que garanta e seja o suporte de um futuro próspero, com uma necessária distribuição efetiva da riqueza e dos acessos aos bens públicos.

O que isto tem a ver com os galpões do IBC?

Erguido a mais de cinquenta anos para abrigar o estoque regulador do café’, com o tempo foi perdendo a sua função original, restando, semi ocupado, imenso obstáculo no centro do bairro, uma sequência de muros reservando, no interior, um passado esgotado, uma imensa caixa vazia.

Nos momentos de grande aflição e riscos coletivos, como vivemos agora, uma pandemia mundial que não respeita fronteiras e limites, brilham possibilidades de renovação e salvação.

Mas também, aumentam os riscos do atraso, da expansão do conservadorismo, da ignorância e dos preconceitos sociais e raciais.

Estamos diante destes perigos e potencialidades,

O debate e a decisão acerca de novos usos dos galpões, trata-se de uma destas potencialidades. Uma área de mais de 30.000 m2, central ao bairro e de acesso fácil às avenidas, que articulam a metrópole norte. Uma oportunidade excepcional para a cidade, para uma renovação de Jardim da Penha e para o futuro de nossas crianças e jovens.

Não podemos entregar esta chance `a decisão dos interesses do governo federal, da gula do mercado imobiliário, que ainda não se aperceberam dos novos tempos pós pandemia, e não compreendem as novas demandas urbanas emergentes.

Cabe a nós, moradores, da cidade e do bairro, trabalhadores, estudantes e frequentadores de suas ruas, principalmente os mais jovens, atrevermos a pensar, propor e decidir mais nobres utilizações para a área, através de um amplo debate democrático.

 

Um projeto cultural

Não é por acaso, ou por desconhecimento, que a palavra cultura e a consequente instalação de um local adequado para a sua produção e usufruto, destacando a sua importância e valor, seja a primeira a ser lembrada no atual debate. Mesmo aos mais resistentes, está claro que qualquer projeto de futuro, passa pela produção coletiva do saber imaterial, das ciências, das tecnologias e das artes, através da inovação criativa, forma de participar ativamente em um mundo em permanentemente mudança.

Cultura, neste caso, não se restringe às atividades artísticas, mas se refere a todas as práticas sociais, vividas na vida privada ou comum, no aprendizado contínuo, na pesquisa, básica e aplicada, na criação de novos procedimentos e aplicativos, na descoberta de conteúdos informativos ou significados artísticos, para uma apropriação e uso público, e que promovam uma economia de bens simbólicos, inclusiva e sustentável.

Como um produto coletivo, a produção cultural deve abrigar os mais diferentes modos de representação e significação, de classe, gênero, raça ou sexo, deve servir para dar visibilidade e presença `as minorias e `as parcelas excluídas da sociedade, como parte da redução das desigualdades urbanas e econômicas.

A proximidade da UFES, o interesse do IFES e da Secretaria de Cultura do Estado, e principalmente, as movimentações da população de Jardim da Penha, já’ garantem o impulso inicial partida deste debate, e, tenho algumas propostas, baseadas nos seguintes princípios e objetivos:

Centro de produção cultural

Objetivos gerais

Agregar/ articular/ aproximar atividades múltiplas de aprendizado, conhecimento e produção de conteúdos e fruição de experiências artísticas, cientificas, esportivas e culturais, a partir dos seguintes princípios:

1.            Um lugar feito para aproximar pessoas/ ideias/ informações, um local de troca de afetos, contatos e conhecimentos.

2.           Um lugar de produção e consumo de inovações, onde se agreguem moradias temporárias, um local de pontos múltiplos de sociabilidade.

3.           Um lugar permeável, onde se instale a diversidade, diferenças, um local dos conflitos e da negociação, entre o bairro, a metrópole e o mundo.

E com o seguinte programa mínimo de atividades:

1.            Moradias temporárias/

Que possa abrigar residências artísticas/ estudantes/ para manter uma movimentação constante de pessoas jovens.

2.           Oficinas de formação/ aperfeiçoamento e treinamento-

Instalação de um centro de extensão universitária/ Ufes/ Ifes/Secult

3.           Locais de apresentação/ fruição artística-

Equipamentos culturais. teatro/ auditório/ salas de exposições/ cinema, etc.

4.           Praça pública/ de encontros/ de manifestações/

Feira livre/ feirinhas semanais e festas comunitárias

5.           Comércio e serviços locais-

Para a instalação de pequenas lojas/ escritórios, bares e restaurantes, artesanato, etc.

6.           Biblioteca, arquivo, e museu histórico-

Que guarde e proteja as memórias de imagens e sons da cidade de Vitoria/ Jardim da Penha

7.            Centro de apoio e instalação a novos negócios/ Para as start ups tecnológicas/ artísticas/ sociais

8.           Instalações exercícios físicos-

Tais como academia/ piscina/quadra/etc.

Para o bom funcionamento do centro,  propomos uma

Administração e gestão colegiada,

Com a participação de:

1.            Moradores Jardim da penha/ Cidade

2.           Prefeitura

3.           Secult/ governo do Estado/Ifes/Ufes

4.           Produtores culturais/ científicos

 

Os tempos de pandemia nos cobram ousadias, nos exigem desejos, nos alimentam de esperança de melhores dias.

A ocupação criativa do galpões do IBC e’ uma aposta que precisamos fazer.

 

Kleber Frizzera

Julho/2020