sábado, 3 de novembro de 2018

Lilases



Este lado, em paraíso, a rubra cobra desliza,
Em direção ao abril.
Desliza o silente dito
Em direção ao inverno.

Agrada-me, tão longe, supera-me, em falas,
Sem meios de respondê-la, o espelhado desejo, 
esgotado
Em outras passagens.

Em fim, sem fim, esvazio de lado,
O último pingo

Da amarga paixão.

domingo, 7 de outubro de 2018

Quando foi

Em que momento deixamos de ser humanos, abandonamos os afetos universais, desleixamos os suaves gestos de solidariedade, esquecemos a fala doce e os ouvidos atentos, em que instante voltamos a se comportar como animais de rapina e ódio?
Em que cruzamento, escolhemos o caminho do mal, em que encruzilhada, insanos, nos dirigimos `a senda da exclusão e da separação, quando abandonamos em campo segregado, inúteis, os outros humanos, desiguais e diferentes corpos?
Em que encontro, deixamos de lado a razão e os argumentos ditos, quando a força do braço, os olhos em fúria, desfechou o golpe fatal da violência, impos a marca da morte, impulsionou a arma que cala, machuca e destrói?

Sobra, encanto, a suave ternura, consciente, que não se deixa enganar, sobra o momento redentor, o evento que inventa, sobra o amor que tudo pode, que tudo sonha, que tudo revela, imagina, desfaz o intricado no´, sobra o amor que tudo e´.

Kleber 

sábado, 4 de agosto de 2018

Pouca coisa dita



Em cada dia e dia, e pouco sonho, 
De digital consumo, pouco prazer e deslocados sentidos na pressão das coisas, 
Diante de gentes feitas e futuros gestos.
Acompanho, atento, os deslocamentos.
Esqueço, perfeito, as duras memórias.
Amanheço, desperto, corpo a corpo com a renovada vida.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Encanto


De longe vinda, suspenso o próprio gesto, deslocado o jeito face o desdobrar da folha em solo posta, em ponto de surpreso feito.
Caberia cada pedaço em retalhos a colcha alinhavada,
Ou a linha esquiva anota ponto a ponto,
Em cerne,
Em fruto, a chegada do outono.

Em segunda leva, a fila se desdobra, ponto a ponto, ligando o começo ao fim
A levedura
A dobra dos sentidos, em flor de espera,
Odores.
Em fundo desejo,
Contem o possível encontro.

Terceto alvo, encaminha a seta ao ponto cego, desfeito o ardil do arco e do olho,
A chegada de comboio embarca,
Atento a espera da dama em sonhos brancos em arminho.

Kleber
Junho 2018


terça-feira, 15 de maio de 2018

Pálido



Alguém me interpelou se não mais escrevia na rede, se não mais lançava ao ar, ao mar, o dissolvido pote, se não mais o estreito caminho estreito, transpunha.

Dorme a campanha e o retroz enrolado devolve o bastão ao seguinte corretor, faz a linha escorregar no colo da mocinha.

Estranho evento, vento, em tempo
Acompanho pálido a insistência divina, o feito intermitente, 
O braço que aprende o fato.

Maio 18