sexta-feira, 18 de setembro de 2015

enfim




Aceito a hora,
A pressa,
O contido desejo da chegada.

Desprezo a noite fria,
O alento e as damas, da noite,
Inebriando o corpo exangue.

Intimo tua voz,
Ao desembarque esperado,
enfim!

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Entre



Quando lá no alto os céus ainda não tinham nome
Quando cá embaixo a Terra ainda não tinha nome.
Enuma Elish.
Poema da criação babilônico

Entre a ordem e a incerteza, entre a certeza e o caos, em um mundo onde duros fixos e fluxos digitais, aos montões, disputam os corpos e as vontades dos homens, que enfrentam dia a dia, com suas táticas e trajetórias, as estratégias dos poderes, dos saberes e dos capitais; os espaços urbanos, onde vivem a maioria da humanidade e dos brasileiros, rangem, em permanências e mudanças, inúmeros e alternativos processos e caminhos, retas da felicidade e das dores.
Pesadas e leves coisas estranham estas alternativas, aguardando denominações e objetivos, a se imporem nas suas estruturas de organização e mudanças, pelas falas e ações ou claras marcas de beleza e satisfação.
Em multidão ou solitários caminhantes, ocupando, nas marchas e cortejos, em gritos ou surdos apelos, as ruas sem fins, os homens sem mais qualidades, esperam, desesperançosos, o cíclico retorno das utopias abandonadas, a reinvenção dos relatos perdidos, ficando entre o sonho da antecipação da cidade paraíso, e a ilusão de um movimento perpetuo, feito de renovados eventos em suas ativas vidas. Uma “nostalgia do paraíso”, um desejo experimentado pelos homens, de se acharem sempre, no coração do mundo, diz Eliade, e assim conseguir, “ superar a condição humana e recobrar a condição divina,..., a condição anterior `a queda”.
Seria a felicidade, esperada ou antecipada, apenas mais uma oferta do consumo estético imposto pelo capital, a ser disputada e/ ou comprada no mercado, ou uma lembrança anterior `a perda do início, no interior do paraíso terrestre, a ser reconquistada, sua falta, pela linguagem, pela ciência e pela política, ou vivida intensamente, antecipadamente no amor, na arte e na sabedoria?
Nas disputas dos contrários argumentos, dos iluminados acenos `a praticas hedonistas ou intensas e ativas políticas, nos esforços isolados ou no seio da multidão, quem mais oferece, a religião, ciências ou paixões, meios de retomarmos os prazeres abandonados, deixados em devir, no tempo a ser concreto, refém do outro lado do muro do jardim das delicias?
Em nossa imediata proximidade, debatem-se propostas, afirmam-se intolerâncias, pequenas e grandes guerras, apoiadas nos chãos e no virtual, estimuladas por superficiais críticas, por rápidas respostas, flechadas de 140 caracteres, ansiosas vontades e prontas para o sucesso imediato, cercada `a fama dos “ quinze segundos”, nos ares.
Nas reais cidades, indiferentes `as falas, os corpos ocupam, nos domingos ensolarados, o calor e o prazer da carne, deslizam de bicicletas, respondem aos gritos das crianças refletindo suas vozes e areias nos coloridos guarda-sóis, enquanto a carrocinha “ ajelso”, apela ao pais e distribui beijos gelados e picolés coloridos. O vento escoa na pele os encantos do dia, e sozinho, da janela ao alto, o escritor se esmera com a palavra e tristeza, incapaz do defeito projeto unificador, de fe’, orgulho e futuro.


Incompleto mundo
Se eu for pensar muito na vida
Morro cedo, amor.
Nelson Cavaquinho

Um misto de prazer e dor escapa dos coletivos e dos telefones celulares, em todas as mãos e ouvidos, trocando somas de alegrias e infortúnios, compartilhados, agudas vozes, com todos os passageiros, onde o cansaço, do trabalho repetido, espelha os rostos e brilhos e escapam de olhos outros. Microcosmos da dura urbe, o ônibus vespertino, nas suas infelizes paradas, carregam tristezas infinitas aos frios e longínquos apartamentos.

Como a tristeza infinita das mulheres, que no final da tarde, cansadas de trabalho inútil, esvaziam os seus olhares a espera do ônibus, fazendo costas para o oceano e o céu. Sao muitas, inúmeras, uma série de mulheres, feias, mal arrumadas, os corpos disformes, a maioria negras. Enquanto aguardam, não conversam entre si, silenciosas, desconhecidas que são do mesmo sofrimento e da mesma dor compartilhadas. 
O que as espera no lar? Mais uma jornada, mais uma tristeza, filhos e perversos maridos.
Não ha’ honra ou qualquer escolha para estas mulheres, nem imortalidade e lembrança, nem longa vida nem marcas de vitorias em suas mãos nos moveis, nas roupas, nas comidas, e pouco, quase nada.  
Que nos resta, atual a sina da solidão e esvaziada a solidariedade, que soubemos fazer de nossos confortos e desilusões?
Que nos resta das mulheres infelizes?
Infinitos abandonos.


Aprender a sorrir

Contigo aprendi a sorrir.
É por isso que eu canto assim.