sábado, 22 de junho de 2013

compulsão da morte



a multidão canta a dança macabra, o homem e
o touro, apenas ferido, 
olhos vermelhos e a raiva contida. 

pelo fatal golpe, o único, a certeira espada no centro da vida, coração.
estático, o açougueiro avalia a direção do estoque, 
a precisão do corte,
o contato sofrido.

suspensão, silencio, enfim,
a morte esvai o sangue na areia da arena.

junho 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Esquecimento


Ou como nos lembra Fernando Pessoa: 
“Ah quanta vez na hora suave
Em que me esqueço...
Não ignoro o que esqueço
Canto por esquecê-lo.
Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar
Que me ensinaram.”

sábado, 15 de junho de 2013

Uma vida iluminada.




O mundo primeiro, criado, contem o sentido possível, a totalidade potencial, e o seu desvelamento ilumina o brilho no futuro, com seus fragmentos, ainda sem conexões ou ligações, dispostos em caixas, em vasos, frágeis conteúdos e continentes, alinhados nas prateleiras, a serem interpretados. 
Reconhecidos.

Partes de vidas, de gestos, de coisas e objetos familiares estranhos ao tempo, pertences de outras épocas, incrustados nos seus resíduos e precárias formas, aguardam as ordens, sentidos e valores originais. 

Expostos aos rigores das estações, escorrem como correm os rios, sem a mesma água e átomo a cada visada e mergulho.

No campo de girassóis, vazia a arquitetura e perdida a cidade, sem partes a serem coladas ou ajustadas suas montagens e desencontros, mergulha a palavra e o desejo, as mãos recolhem a terra decomposta dos corpos assassinados.

outubro.2015

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ponte de Westminster


Não tem a terra nada mais belo para mostrar
Pobre de espírito seria aquele que pudesse ignorar
esta visão tão comovente na sua majestade
Como um traje veste agora esta cidade

a beleza da manhã. Silenciosas e nuas
torres cúpulas navios teatros catedrais a prumo
erguem-se no céu e estendem-se pelas ruas
brilhantes e reluzentes no ar sem fumo

Nunca o sol se ergueu com tanta alma
por sobre vales rochedos e colinas
nunca vi nunca senti uma tão profunda calma

O rio desliza consoante o seu desejo
Meu Deus o casario parece que dorme
Dorme também aquele coração enorme

Wordsworth. 
1802