sábado, 24 de agosto de 2013

O Infinito



Sempre me foi cara esta erma colina,
e esta sebe, que em muitos pontos
do ultimo horizonte esconde a vista.
Porem, sentado, contemplando espaços
sem fim alem daquela, e sobre-humanos
silêncios, e mais que profunda calma
em pensamento finjo; onde por pouco
o coração nao turva. E como o vento
ouco a zoar entre estas plantas, aquele
infinito silencio a esta voz
vou comparando: e lembra-me o eterno,
e as mortas estações, e a presente 
e viva, com seu som. E entao se afoga 
nesta imensidão meu pensamento;
e o naufragar me e’ doce neste mar.

Giacomo Leopardi

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Todos os caminhos


Todos os caminhos iam à Rua da Bahia. 
Da Rua da Bahia partiam vias para os fundos do fim do mundo,….
Nós sabíamos, o Carlos tinha dito. A Rua da Bahia era uma rua sem princípio nem fim.

Conhecia todo mundo. 
Cada pedra das calçadas, cada tijolo das sarjetas, seus bueiros, os postes, as árvores. 
Distinguia seus odores e suas cores de todas as horas. Seu sol, sua chuva, seus calores e seu frio.

pedro nava

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Suspiro

onde?
Responde-me um suspiro fantasmagórico:
Lá onde tu não esta’s
Lá esta’ a felicidade.


Do outro lado da rua e do canal, 
na outra face da ponte e horizonte, 
logo ali, 
ultrapassados os limites do vestígio, 
te encontrarei afinal, branca, 
límpida e resplandescente, imagem de Beatriz.
Mas não estava,
somente sombras e abandono, 
de seu desprezo e orgulho, 
exposto o sofrimento, 
em cicatrizes de longas facas.

Escapa e larga inoperante, 
sem sua presença, 
o incapaz desejo de conter e desdobrar, 
transbordar em espumas.

Caminho em vão, ali
desisto,
deixo no campo, abandono, 
as folhas e linhas, 
em plantio, 
em colheitas abortadas.