terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Palacio de inverno

Mas hoje o poder não tem um lugar a ser tomado, não ha’ mais um palácio do inverno a ser ocupado, o poder, ele se se escamoteia entre relações de controle, gestão e subordinação, através da forca física e da violência , mas muito mais insidioso, pelas ideias e ideologias que conformam e imolam o pensamento e a opinião comum ao interesse burguês e do capital. 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Lamento

Lamento,
Mas minha alma está longe.

Atrasada, desfiada, desafinada a minha fala. 
Lamento, 
Mas perdi a voz e o tento, a brecha e a oportunidade no tempo.

Desmanchada, desfocada a minha alma.
Lamento, 

Mas sobra em parte, em fragmento, um troço de mim.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

outros


Quem me pergunta, 
Mas sabe de antemão a resposta,
Quem conhece toda a distancia, ao pisar
Em seu bordo inicial?

Quem me surpreende, na verdade,
Quem me escuta,
Quem, serão os de sempre?

Quem se move aos montes, nas ruas, 
serão os de sempre, outros,
iguais aos iguais que caminham ao meu lado, 

e fazem o caminho, a circular?

sábado, 24 de agosto de 2013

O Infinito



Sempre me foi cara esta erma colina,
e esta sebe, que em muitos pontos
do ultimo horizonte esconde a vista.
Porem, sentado, contemplando espaços
sem fim alem daquela, e sobre-humanos
silêncios, e mais que profunda calma
em pensamento finjo; onde por pouco
o coração nao turva. E como o vento
ouco a zoar entre estas plantas, aquele
infinito silencio a esta voz
vou comparando: e lembra-me o eterno,
e as mortas estações, e a presente 
e viva, com seu som. E entao se afoga 
nesta imensidão meu pensamento;
e o naufragar me e’ doce neste mar.

Giacomo Leopardi

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Todos os caminhos


Todos os caminhos iam à Rua da Bahia. 
Da Rua da Bahia partiam vias para os fundos do fim do mundo,….
Nós sabíamos, o Carlos tinha dito. A Rua da Bahia era uma rua sem princípio nem fim.

Conhecia todo mundo. 
Cada pedra das calçadas, cada tijolo das sarjetas, seus bueiros, os postes, as árvores. 
Distinguia seus odores e suas cores de todas as horas. Seu sol, sua chuva, seus calores e seu frio.

pedro nava

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Suspiro

onde?
Responde-me um suspiro fantasmagórico:
Lá onde tu não esta’s
Lá esta’ a felicidade.


Do outro lado da rua e do canal, 
na outra face da ponte e horizonte, 
logo ali, 
ultrapassados os limites do vestígio, 
te encontrarei afinal, branca, 
límpida e resplandescente, imagem de Beatriz.
Mas não estava,
somente sombras e abandono, 
de seu desprezo e orgulho, 
exposto o sofrimento, 
em cicatrizes de longas facas.

Escapa e larga inoperante, 
sem sua presença, 
o incapaz desejo de conter e desdobrar, 
transbordar em espumas.

Caminho em vão, ali
desisto,
deixo no campo, abandono, 
as folhas e linhas, 
em plantio, 
em colheitas abortadas.


sábado, 22 de junho de 2013

compulsão da morte



a multidão canta a dança macabra, o homem e
o touro, apenas ferido, 
olhos vermelhos e a raiva contida. 

pelo fatal golpe, o único, a certeira espada no centro da vida, coração.
estático, o açougueiro avalia a direção do estoque, 
a precisão do corte,
o contato sofrido.

suspensão, silencio, enfim,
a morte esvai o sangue na areia da arena.

junho 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Esquecimento


Ou como nos lembra Fernando Pessoa: 
“Ah quanta vez na hora suave
Em que me esqueço...
Não ignoro o que esqueço
Canto por esquecê-lo.
Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar
Que me ensinaram.”

sábado, 15 de junho de 2013

Uma vida iluminada.




O mundo primeiro, criado, contem o sentido possível, a totalidade potencial, e o seu desvelamento ilumina o brilho no futuro, com seus fragmentos, ainda sem conexões ou ligações, dispostos em caixas, em vasos, frágeis conteúdos e continentes, alinhados nas prateleiras, a serem interpretados. 
Reconhecidos.

Partes de vidas, de gestos, de coisas e objetos familiares estranhos ao tempo, pertences de outras épocas, incrustados nos seus resíduos e precárias formas, aguardam as ordens, sentidos e valores originais. 

Expostos aos rigores das estações, escorrem como correm os rios, sem a mesma água e átomo a cada visada e mergulho.

No campo de girassóis, vazia a arquitetura e perdida a cidade, sem partes a serem coladas ou ajustadas suas montagens e desencontros, mergulha a palavra e o desejo, as mãos recolhem a terra decomposta dos corpos assassinados.

outubro.2015

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ponte de Westminster


Não tem a terra nada mais belo para mostrar
Pobre de espírito seria aquele que pudesse ignorar
esta visão tão comovente na sua majestade
Como um traje veste agora esta cidade

a beleza da manhã. Silenciosas e nuas
torres cúpulas navios teatros catedrais a prumo
erguem-se no céu e estendem-se pelas ruas
brilhantes e reluzentes no ar sem fumo

Nunca o sol se ergueu com tanta alma
por sobre vales rochedos e colinas
nunca vi nunca senti uma tão profunda calma

O rio desliza consoante o seu desejo
Meu Deus o casario parece que dorme
Dorme também aquele coração enorme

Wordsworth. 
1802

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Além




Sobram partes e pedaços, sobram linhas e alicates,
Restam pequenos gestos, incompletos, depois,
Quando ditos e falados
Se acumulam, do outro lado,
Inúteis guardados.

terça-feira, 19 de março de 2013

De novo

a chuva continua, o dia todo,
pingo a pingo,
molhando a cidade, suas ruas e seu coracao.
de novo

sexta-feira, 15 de março de 2013

Wallace Stevens2




Foi nessa hora que o silêncio ficou mais amplo 
E mais longo, e a noite mais redonda,
A fragrância do outono mais cálida,
Mais íntima e mais forte.



sexta-feira, 8 de março de 2013

Wallace Stevens


E, no isolamento do azul,
Ao entardecer, pombas revoam a esmo,
Fazendo ondulações ambíguas, vagas,
Em direção à sombra, com suas asas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Amargura



Pois, ainda que a alma de um homem esteja atormentada e que seu coração esteja aflito, quando “ um poeta , servo das musas”, canta os feitos dos antepassados e a santidade dos deuses, esse homem esquecera’ seu abatimento, e as dadivas das deusas os afastarão de suas amarguras.
Eric Voegelin

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Duelo


Desconfiado, desafio o corpo em duelo, 
os meus gestos repetidos
refletem, em espelhos, 
cansaço da noite e a marca da dor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Paisagem e cultura


Assim bem longe de se deixar conceber como um fração ou porção de um pai’s submetida a autoridade do olhar e delimitada por um horizonte, a “paisagem” chinesa opera a globalidade funcional dos elementos, ou antes de fatores, de vetores, em interação. O pintor chinês nao pinta um canto do mundo a partir da posição de um sujeito perceptivo e tal como o construiria em perspectiva; mas e’ a totalidade do dinamismo e sopro cósmicos, tais como se desdobram no grande processo do mundo, através do jogo infinitamente diverso de suas polaridades, que e’ encarregado de veicular o ela` vital do pincel.

Francois Jullien
in O dialogo entre as culturas
Do universal ao multiculturalismo.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

salinger


“ Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira”, uma pergunta, uma dita, um estranhamento quando te reconheci novamente na prateleira de livros de bolso, na livraria vazia, perscrutando alguma novidade, me estimulando o diálogo e o não dito de tanto tempo interrompido, “ para os que tem paciência”.