O projeto Portal do Príncipe
Se em dezembro/ 2019, o
projeto do Portal do Príncipe, proposto pelo Governo do Estado para a
entrada sul de Vitória, vinculado a uma visão rodoviarista, já’ se mostrava
inadequado para as exigências urbanas e especificamente para o local de sua implantação,
após a pandemia do corona vírus, a proposta se mostra como um equivoco muito
maior.
Pensadores de todo o mundo,
políticos, urbanistas e arquitetos, tem refletido sobre o futuro das cidades,
alertando sobre as novas condições e práticas urbanas, em um mundo pós pandemia,
e apontando algumas tendências:
1. A pandemia expôs uma crescente
desigualdade urbana, de rendas, empregos e condições de trabalho, e
principalmente, denunciou as deficientes condições físicas e ambientais das
moradias populares- sem falar dos moradores de rua-, e seus impactos diretos na
contaminação e disseminação do vírus. Ao mesmo tempo, cresce o entendimento e a
consciência da responsabilidade pública na condução de políticas habitacionais
inclusivas, com a reabilitação de imóveis fechados, subutilizados ou abandonados
nas áreas urbanas.
2. Não há’ mais dúvidas que
o trabalho e o ensino em regime de home office, bem como compras online,
tendem a crescer exponencialmente, afetando as movimentações diárias, e,
reduzindo o número de viagens dedicadas a estas tarefas, trabalho, ensino e
compras. O regime do trabalho 24/7- 24 horas, sete dias da semana-, já
e’ crescente, a algum tempo, nas grandes metrópoles, alterando os números, os
objetivos e as horas pico dos deslocamentos diários e estas rotinas de
mobilidade devem se acelerar também nas metrópoles menores.
3. Muito provavelmente, haverá’
uma reconfiguração das atividades econômicas, a redução da globalização da
economia, do comércio exterior, um processo de reindustrializacao local e um
esforço para reduzir as dependências nacionais do mercado internacional. A Grande
Vitória, fatalmente, será afetada pela diminuição do volume e valores das
commodities, e devera’ se esforçar para que novos empreendimentos, tecnológicos
ou intensivos de mão de obra, produtores de bens e serviços pessoais e
empresariais, materiais e imateriais, compensem e substituam estas perdas futuras
de rendas públicas e privadas.
Diante destas três, prováveis
possibilidades, as cidades precisam e devem reestruturar, ambiental, econômica
e socialmente, a produção, -inclusive através do trabalho colaborativo-,
o consumo consciente dos bens e serviços, a mobilidade diária, as
práticas de vida cotidiana, privada e pública e a oferta de habitações
e ambientes urbanos dignos a todos os seus moradores.
O projeto Portal do Príncipe,
conforme divulgado na sua contratação, não atende a nenhuma destas
demandas, ao contrário, o projeto :
Prioriza o veículo
individual
como meio principal de locomoção em detrimento do transporte coletivo, segmenta
a cidade e separa os bairros, não preserva e não propõem espaços
para a habitação e atividades produtivas e contribui para a desqualificao
ambiental e estética da região.
Isto e’, um projeto inútil,
pouco atento e comprometido com o futuro
e novas exigências para a metrópole.
Reitero minhas críticas
anteriores ao projeto, publicadas em Movimentoonline.com.br, dezembro/2019,
onde dizia:
“Gostaria
de destacar as seguintes faltas ou ausências notadas na proposta
publicada:
1.
Uma conexão adequada dos dois lados do aterro,
ligando e articulando, principalmente para o pedestre, a ilha do Príncipe ao
morro do Quadro e do Alagoano, a avenida Alexandre Buaiz `a avenida Santo
Antônio,
2.
Uma proposta de expansão e requalificação do
mercado da Vila Rubim, lugar tradicional de abastecimento e sociabilidade dos
moradores da cidade de Vitória,
3.
A previsão de implantação de um sistema de
transporte coletivo de média capacidade, tipo BRT ou VLT, que conecte o centro
de Vitória `a Cariacica e Vila Velha
4.
Um proposta de geração de espaços construídos,
para abrigarem edifícios de habitação social, serviços públicos e privados,
comércios e instalação de novos negócios,
5.
E finalmente uma
qualificação paisagística
e ambiental através da implantação de um parque linear, que ligue o
mercado da Vila Rubim `a rodoviária e ao parque Tancredo Neves.”
Cabe ao Governo do Estado
estabelecer um debate amplo, da oportunidade e qualidade deste projeto, e que
possa contribuir positivamente para a sua revisão, vinculada os novos desejos e
necessidades da Grande Vitória.
Kleber Frizzera
maio 2020
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