sábado, 9 de maio de 2020

Um erro


O projeto Portal do Príncipe
Se em dezembro/ 2019, o projeto do Portal do Príncipe, proposto pelo Governo do Estado para a entrada sul de Vitória, vinculado a uma visão rodoviarista, já’ se mostrava inadequado para as exigências urbanas e especificamente para o local de sua implantação, após a pandemia do corona vírus, a proposta se mostra como um equivoco muito maior.
Pensadores de todo o mundo, políticos, urbanistas e arquitetos, tem refletido sobre o futuro das cidades, alertando sobre as novas condições e práticas urbanas, em um mundo pós pandemia, e apontando algumas  tendências:
1. A pandemia expôs uma crescente desigualdade urbana, de rendas, empregos e condições de trabalho, e principalmente, denunciou as deficientes condições físicas e ambientais das moradias populares- sem falar dos moradores de rua-, e seus impactos diretos na contaminação e disseminação do vírus. Ao mesmo tempo, cresce o entendimento e a consciência da responsabilidade pública na condução de políticas habitacionais inclusivas, com a reabilitação de imóveis fechados, subutilizados ou abandonados nas áreas urbanas.
2. Não há’ mais dúvidas que o trabalho e o ensino em regime de home office, bem como compras online, tendem a crescer exponencialmente, afetando as movimentações diárias, e, reduzindo o número de viagens dedicadas a estas tarefas, trabalho, ensino e compras. O regime do trabalho 24/7- 24 horas, sete dias da semana-, já e’ crescente, a algum tempo, nas grandes metrópoles, alterando os números, os objetivos e as horas pico dos deslocamentos diários e estas rotinas de mobilidade devem se acelerar também nas metrópoles menores.
3. Muito provavelmente, haverá’ uma reconfiguração das atividades econômicas, a redução da globalização da economia, do comércio exterior, um processo de reindustrializacao local e um esforço para reduzir as dependências nacionais do mercado internacional. A Grande Vitória, fatalmente, será afetada pela diminuição do volume e valores das commodities, e devera’ se esforçar para que novos empreendimentos, tecnológicos ou intensivos de mão de obra, produtores de bens e serviços pessoais e empresariais, materiais e imateriais, compensem e substituam estas perdas futuras de rendas públicas e privadas.
Diante destas três, prováveis possibilidades, as cidades precisam e devem reestruturar, ambiental, econômica e socialmente, a produção, -inclusive através do trabalho colaborativo-, o consumo consciente dos bens e serviços, a mobilidade diária, as práticas de vida cotidiana, privada e pública e a oferta de habitações e ambientes urbanos dignos a todos os seus moradores.
O projeto Portal do Príncipe, conforme divulgado na sua contratação, não atende a nenhuma destas demandas, ao contrário, o projeto :
Prioriza o veículo individual como meio principal de locomoção em detrimento do transporte coletivo, segmenta a cidade e separa os bairros, não preserva e não propõem espaços para a habitação e atividades produtivas e contribui para a desqualificao ambiental e estética da região.
Isto e’, um projeto inútil, pouco atento e comprometido  com o futuro e novas exigências para a metrópole.
Reitero minhas críticas anteriores ao projeto, publicadas em Movimentoonline.com.br, dezembro/2019, onde dizia:
Gostaria de destacar as seguintes faltas ou ausências notadas na proposta publicada:
1.  Uma conexão adequada dos dois lados do aterro, ligando e articulando, principalmente para o pedestre, a ilha do Príncipe ao morro do Quadro e do Alagoano, a avenida Alexandre Buaiz `a avenida Santo Antônio,
2.  Uma proposta de expansão e requalificação do mercado da Vila Rubim, lugar tradicional de abastecimento e sociabilidade dos moradores da cidade de Vitória,
3.  A previsão de implantação de um sistema de transporte coletivo de média capacidade, tipo BRT ou VLT, que conecte o centro de Vitória `a Cariacica e Vila Velha
4.  Um proposta de geração de espaços construídos, para abrigarem edifícios de habitação social, serviços públicos e privados, comércios e instalação de novos negócios,
5.  E finalmente uma
qualificação paisagística  e ambiental através da implantação de um parque linear, que ligue o mercado da Vila Rubim `a rodoviária e ao parque Tancredo Neves.”
Cabe ao Governo do Estado estabelecer um debate amplo, da oportunidade e qualidade deste projeto, e que possa contribuir positivamente para a sua revisão, vinculada os novos desejos e necessidades da Grande Vitória.

Kleber Frizzera
maio 2020
 

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