Desde a sua inauguração, ou
mesmo antes, a terceira ponte esteve presente nos debates, discussões, apreciações
e desentendimentos que circulam nas conversas diárias dos moradores da metrópole
e da midia capixaba.
No início, foi aplaudida
como solução para os engarrafamentos que paralisavam a área central de Vitória,
criticada quando interrompida a sua construção e finalmente intensamente
comemorada na sua inauguração.
O trânsito pelo centro foi
reduzido, os investimentos imobiliários- habitações e shoppings- abriram uma
nova fronteira na orla de Vila Velha, atraindo novos e inúmeros moradores. Ninguém
parou para pensar se a escolha de sua implantação teria sido a melhor ou mais
adequada, estimulando a ocupação litorânea da cidade e dividindo o município em
dois lados.
A concentração em Vitoria
dos empregos e instituições públicas, o crescimento da ocupação do planalto de
Carapina, fez que rapidamente a solução da terceira ponte se transformasse em
um problema. O custo do pedágio, engarrafamentos diários e excepcionais em caso
de seu fechamento, passaram a penalizar aqueles que diariamente são obrigados a
utilizá-la e um mundo de propostas e ideias de soluções passou a circular.
Transporte aquaviario,
alargamento com novas pistas, deslocamento temporário da barreira central,
acessos a pedestres e bicicletas, redução ou eliminação do pedágio se somaram a
dezenas de outras sugestões que ainda circulam no dia a dia da cidade.
Nenhuma ou quase nenhuma
destas propostas entendeu que era e e’ preciso priorizar o transporte coletivo,
não apenas, necessário para reduzir o volume de veículos privados, mas por ser a
forma internacional adotada para o desenvolvimento sustentável das áreas
metropolitanas, como preconiza o Plano de desenvolvimento integrado da Grande
Vitoria - PDUI -aprovado pela Assembleia Legislativa nos final de 2018.
A proposta atual, apresentada
pelo Governo do Estado, de ampliar uma faixa para veículos e a implantação de
uma ciclovia parece anacrônica e desligada dos problemas reais e das soluções
contemporâneas de mobilidade urbana.
A instalação de uma
ciclovia, em uma via com inclinação de ate’ 6%, com mais de 3 km de extensão,
além de permitir o passeio dominical, pouco ira’ facilitar o deslocamento
cotidiano, parecendo ser apenas uma satisfação aos movimentos ciclistas. A
expansão da oferta e dos horários dos ônibus que transportam bicicletas e’
muito mais econômico, mais seguro e menos penoso para os que a usam diariamente.
Quanto a uma nova faixa, que
irá aumentar a capacidade da ponte, será tornada inútil quando desembocar estes
somados veículos nas limitações físicas das ruas das duas cidades vizinhas, transferindo
gargalos e engarrafamentos para os seus interiores.
Cabe entender que os
veículos particulares, como base e fundamento da mobilidade urbana em todo o
mundo estão com os dias contados. Mais e mais cidades têm restringido os
acessos as suas áreas centrais, totalmente ou criando pedágios elevados, e
buscado transferir as demandas de mobilidade pessoal para o transporte público,
coletivo, alguns gratuitos, acessível, de alta capacidade e conforto, movidos a
eletricidade e associados a uma forte intervenção na malha construída.
Na Grande Vitória, como
ações gerais para melhoria e desempenho da mobilidade, creio urgente um
conjunto de ações, visando :
1.
Conter a expansão da malha urbana, evitando a sua fragmentação
e dispersão, que aumenta as distancias e tempos de deslocamento; estimular o adensamento
dos setores construídos infra estruturados, em decadência ou com diminuição populacional
2.
Preparar a metrópole para as novas formas e relações
de trabalho, dispersas, temporárias, muitas vezes precárias, ou feitas a distância,
sendo muitas delas já’ deslocadas para o interior das moradias.
3.
Estruturar um sistema metropolitano de mobilidade, de
pessoas e bens, gerido por uma empresa pública com a participação dos moradores
e dos municípios.
São tarefas deste sistema criar as condições físicas e
ambientais para o movimentos a pé’, de bicicletas, motocicletas, facilitar os acessos
aos morros, instalar redes locais de permeabilidades, promover o transporte
aquaviario, produzir uma regulamentação dos serviços tipos Uber e Taxis,
controlar as pontes, e por fim, implantar um sistema de transporte publico,
tipo VLT
4.
E finalmente,
mas não por último, cabe planejar e investir em um plano de habitação e
urbanização metropolitano, com o objetivo reduzir as condições de desigualdades
sociais e urbanas.
Para os céticos, cabe lembrar que todas as previsões garantem
que a metrópole terá estabilizada a sua população na década de 2030, daqui a
dez anos, e teremos de prover e viver em uma cidade com mais idosos, menos jovens,
onde superados os momentos críticos das migrações rural das década de 1970 e 1980,
haverão as condições para qualificar a vida urbana, com a produção de moradias
e serviços públicos para todos, melhores e com maior qualidade de serviços.
E, por fim, não podemos esquecer que qualquer ação deve se
subordinar ao nosso compromisso de participar da luta em defesa do planeta e de
enfrentamento do aquecimento global, afinal pode sobrar a suas consequências para
nós moradores costeiros.
Kleber Frizzera
Março 2020
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