terça-feira, 17 de março de 2020

Terceira ponte



Desde a sua inauguração, ou mesmo antes, a terceira ponte esteve presente nos debates, discussões, apreciações e desentendimentos que circulam nas conversas diárias dos moradores da metrópole e da midia capixaba.
No início, foi aplaudida como solução para os engarrafamentos que paralisavam a área central de Vitória, criticada quando interrompida a sua construção e finalmente intensamente comemorada na sua inauguração.
O trânsito pelo centro foi reduzido, os investimentos imobiliários- habitações e shoppings- abriram uma nova fronteira na orla de Vila Velha, atraindo novos e inúmeros moradores. Ninguém parou para pensar se a escolha de sua implantação teria sido a melhor ou mais adequada, estimulando a ocupação litorânea da cidade e dividindo o município em dois lados.
A concentração em Vitoria dos empregos e instituições públicas, o crescimento da ocupação do planalto de Carapina, fez que rapidamente a solução da terceira ponte se transformasse em um problema. O custo do pedágio, engarrafamentos diários e excepcionais em caso de seu fechamento, passaram a penalizar aqueles que diariamente são obrigados a utilizá-la e um mundo de propostas e ideias de soluções passou a circular.
Transporte aquaviario, alargamento com novas pistas, deslocamento temporário da barreira central, acessos a pedestres e bicicletas, redução ou eliminação do pedágio se somaram a dezenas de outras sugestões que ainda circulam no dia a dia da cidade.
Nenhuma ou quase nenhuma destas propostas entendeu que era e e’ preciso priorizar o transporte coletivo, não apenas, necessário para reduzir o volume de veículos privados, mas por ser a forma internacional adotada para o desenvolvimento sustentável das áreas metropolitanas, como preconiza o Plano de desenvolvimento integrado da Grande Vitoria - PDUI -aprovado pela Assembleia Legislativa nos final de 2018.
A proposta atual, apresentada pelo Governo do Estado, de ampliar uma faixa para veículos e a implantação de uma ciclovia parece anacrônica e desligada dos problemas reais e das soluções contemporâneas de mobilidade urbana.
A instalação de uma ciclovia, em uma via com inclinação de ate’ 6%, com mais de 3 km de extensão, além de permitir o passeio dominical, pouco ira’ facilitar o deslocamento cotidiano, parecendo ser apenas uma satisfação aos movimentos ciclistas. A expansão da oferta e dos horários dos ônibus que transportam bicicletas e’ muito mais econômico, mais seguro e menos penoso para os que a usam diariamente.
Quanto a uma nova faixa, que irá aumentar a capacidade da ponte, será tornada inútil quando desembocar estes somados veículos nas limitações físicas das ruas das duas cidades vizinhas, transferindo gargalos e engarrafamentos para os seus interiores.
Cabe entender que os veículos particulares, como base e fundamento da mobilidade urbana em todo o mundo estão com os dias contados. Mais e mais cidades têm restringido os acessos as suas áreas centrais, totalmente ou criando pedágios elevados, e buscado transferir as demandas de mobilidade pessoal para o transporte público, coletivo, alguns gratuitos, acessível, de alta capacidade e conforto, movidos a eletricidade e associados a uma forte intervenção na malha construída.
Na Grande Vitória, como ações gerais para melhoria e desempenho da mobilidade, creio urgente um conjunto de ações, visando :
1.   Conter a expansão da malha urbana, evitando a sua fragmentação e dispersão, que aumenta as distancias e tempos de deslocamento; estimular o adensamento dos setores construídos infra estruturados, em decadência ou com diminuição populacional
2.   Preparar a metrópole para as novas formas e relações de trabalho, dispersas, temporárias, muitas vezes precárias, ou feitas a distância, sendo muitas delas já’ deslocadas para o interior das moradias.
3.   Estruturar um sistema metropolitano de mobilidade, de pessoas e bens, gerido por uma empresa pública com a participação dos moradores e dos municípios.
São tarefas deste sistema criar as condições físicas e ambientais para o movimentos a pé’, de bicicletas, motocicletas, facilitar os acessos aos morros, instalar redes locais de permeabilidades, promover o transporte aquaviario, produzir uma regulamentação dos serviços tipos Uber e Taxis, controlar as pontes, e por fim, implantar um sistema de transporte publico, tipo VLT
4.    E finalmente, mas não por último, cabe planejar e investir em um plano de habitação e urbanização metropolitano, com o objetivo reduzir as condições de desigualdades sociais e urbanas.
Para os céticos, cabe lembrar que todas as previsões garantem que a metrópole terá estabilizada a sua população na década de 2030, daqui a dez anos, e teremos de prover e viver em uma cidade com mais idosos, menos jovens, onde superados os momentos críticos das migrações rural das década de 1970 e 1980, haverão as condições para qualificar a vida urbana, com a produção de moradias e serviços públicos para todos, melhores e com maior qualidade de serviços.
E, por fim, não podemos esquecer que qualquer ação deve se subordinar ao nosso compromisso de participar da luta em defesa do planeta e de enfrentamento do aquecimento global, afinal pode sobrar a suas consequências para nós moradores costeiros.


Kleber Frizzera
Março 2020

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