Portal sul,
do Príncipe
As
melhores e as mais visitadas cidades do mundo têm se esforçado, nas últimas
décadas, em (re)qualificar os seus espaços urbanos, buscando fornecer, aos seus
moradores e turistas, ambientes construídos e naturais que ofereçam um conjunto
das seguintes condições mínimas:
1.
Mobilidade
pessoal, segura e confortável, permitindo o acesso a todos os setores urbanos, com
prioridade aos deslocamentos dos pedestres, das bicicletas e através dos
transportes públicos de grande capacidade.
2.
Uma provisão de densidades adequadas, populacional
e de múltiplos usos, que propiciem uma variedade de ocupações e apropriações e possibilitem
a livre expressão de manifestações culturais, étnicas, religiosas e politicas..
3.
Uma rede de conecções físicas e virtuais, através
de linhas de permeabilidades e interligações dos bairros e pontos urbanos de forma a superar e vencer as segregações urbanas
de todo o tipo, de ordem social, econômica e ambiental .
4.
A valorização, o destaque e potencialização
dos lugares do patrimônio coletivo, artístico e
histórico, das paisagens naturais,
dos usos e costumes tradicionais e das práticas sociais e culturais,
5.
A articulação de investimentos públicos e privados
na produção de edifícios de habitação social, de espaços coletivos, de serviços
de saúde, educacionais, de entretenimento e para a instalação de novos negócios
e empregos,
Conforme propõem Richard
Sennett, no seu último livro, Construir e habitar, e’ preciso pensar uma
cidade que atualize cinco formas abertas, sincrónicas, interrompidas,
porosas, incompletas e múltiplas, que não esgotem todas as
possibilidades de apropriação de experiências produtivas e gratificantes, mas sejam
suficientes para a prover e assegurar a presença pública das pluralidades sociais
e o estímulo a eventos e acontecimentos significativos.
Uma cidade aberta deve conter
espaços sincrônicos, onde convivem as diferenças, sustenta projetos que criam lugares
com determinados valores e particular caráter, mas que devem ser porosos, como
uma membrana, que ligue e contate diferentes práticas e comunidades, e que, ao
mesmo tempo, sejam deixados incompletos e inacabados, recebendo iniciativas
coletivas e abrigando diversidades urbanas, e onde se possa semear um espaço
para o máximo de variação, criação e inovação.
O governo do estado anunciou recentemente
um projeto para uma área em Vitoria, conhecida como Portal Sul,
resultado de aterros, de um braço de mar, e que ligaram a ilha do Príncipe `a
ilha de Vitória. Nestes aterros, de mais de quatro décadas, foram erguidos a
rodoviária, o parque Tancredo Neves, o Sambódromo, e algumas instalações
industriais, como o estacionamento e áreas administrativas da antiga Flexibras,
atual Tecnip, junto a ponte seca.
O aumento do movimento de pessoas
e cargas, vindas da ponte Florentino Avidos e da segunda ponte, tem impactado
negativamente a área, hoje em boa parte com terrenos vazios e construções
deterioradas, e tem cobrado dos setores públicos uma solução adequada para a
sua reinvenção de formas e de usos, associada `a implantação de modos físicos e
tecnológicos para apoiar a mobilidade local e metropolitana.
A iniciativa estadual, neste
sentido, neste momento, e’ bem vinda, mas precisa ser avaliada, criticada e
discutida publicamente para não perdermos a oportunidade da produção das
melhorias urbanas que apontem e ajudem para um futuro de uma cidade menos
desigual e mais democrática
Apontar algumas críticas, que
explicitem as ausências ou faltas da proposta apresentada, e’ uma pequena contribuição
ao debate necessário, para que se possa rever
o projeto, de porte rodoviarista, submetido à lógica do carro privado, se impondo
apenas como um meio de passagem de veículos pela área, negando e sufocando algumas
potencialidades locais.
Gostaria de destacar as
seguintes faltas ou ausências notadas na proposta publicada:
1.
Uma conexão adequada dos dois lados do aterro,
ligando e articulando, principalmente para o pedestre, a ilha do Príncipe ao
morro do Quadro e do Alagoano, a avenida Alexandre Buaiz `a avenida Santo Antônio,
2.
Uma proposta de expansão e requalificação do mercado
da Vila Rubim, lugar tradicional de abastecimento e sociabilidade dos moradores
da cidade de Vitória,
3.
A previsão de implantação de um sistema de transporte
coletivo de média capacidade, tipo BRT ou VLT, que conecte o centro de Vitória
`a Cariacica e Vila Velha
4.
Um proposta de geração de espaços construídos,
para abrigarem edifícios de habitação social, serviços públicos e privados,
comércios e instalação de novos negócios,
5.
E finalmente uma
qualificação
paisagística e ambiental através da implantação
de um parque linear, que ligue o mercado da Vila Rubim `a rodoviária e ao
parque Tancredo.
Kleber
Frizzera
Dezembro
2019
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