sábado, 2 de novembro de 2019

Proximidade


Montreal 3
O jornal espanhol El Pais, publicou, em 24 de outubro de 2019, uma reportagem sobre uma longa pesquisa de mobilidade urbana realizada em 174 grandes cidades do mundo, que chegou às seguintes conclusões:
Las ciudades con una movilidad concentrada, o cidades jerárquicas, tienen una mayor calidad de vida. En ellas se usa más el transporte público, se hacen más trayectos a pie, hay menos coches, menos polución, e incluso se atienden mejor las emergencias. En cambio, las ciudades dispersas muestran los niveles contrarios’. Estas são as principais afirmações, cidades hierárquicas e de mobilidade concentrada têm maior qualidade de vida e menos poluição, que chegaram os estudos da equipe multidisciplinar do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC).
Para esta pesquisa, quanto `a mobilidade urbana, existem dois tipos extremos de formas, cidades que são como cebolas ou que são como cachos de uvas:’ por un lado, urbes que son como cebollas, por el otro, ciudades que funcionan como racimos de uvas’. Na Europa, afirmam, ‘la mayoría de las ciudades son cebollas: tienen centros compactos en los que los ciudadanos y turistas entran y salen mucho, rodeados de consiguientes capas en las que se va produciendo menos movimiento y menos densidad. Ao contrário, nos Estados Unidos, afirmam os pesquisadores, ‘abundan las ciudades que se parecen más a un racimo de uvas’. O paradigma deste tipo de cidade seria a região de Los Angeles onde : ‘muchos centros neurálgicos vibrando con movimiento, rodeados de zonas donde la gente se mueve menos’.
A discussão ate´ agora era definir que tipo de cidade seria a mais eficiente, e, ‘com este estudo descobrimos que a melhor e´ a concêntrica,’ diz Javier Ramasco, investigador del CSIC.
Será que estes resultados serviriam para pensar criticamente a atual situação da Grande Vitória, cuja forma se assemelha mais ao modelo de um cacho de uvas, dispersando no seu extenso território, múltiplos e desiguais centros e bairros, conectados por intervalos de baixa movimentação e atividades?
Já a algum tempo políticos e urbanistas , em todo o mundo, tem buscado, em várias cidades na América, Europa e no Canada’, reverter a dispersão urbana e a pluricentralidade, incentivando ações privadas e investindo em serviços, infraestrutura e lugares públicos, no sentido de fortalecer, qualificar e adensar os centros urbanos, históricos e comerciais, transformando-os em nós de cultura, educação, moradia, turismo e de negócios, pontos de mobilidade concentrada.
Enquanto isto, na Grande Vitória, nos deparamos com um centro histórico em frangalhos e aparentemente estamos conformados em viver em arquipélago urbano em que se transformou a nossa metrópole, de longos afastamentos, de longas distancias e de longos tempos de translação entre os seus muitos centros e as fragmentadas áreas habitacionais, impondo uma forte segregação urbana, custos e tempos elevados de transporte público e privado e uma ineficiente oferta de infraestrutura urbana e dos serviços pessoais e empresariais.
O estudo também mostra uma possível correlação entre compacidade de uma cidade e quanto ela e´ capaz e propícia para misturar e mesclar a sua população. Quanto mais hierárquica, mais centralizada, diz o estudo, e consequentemente, mais diversidade social: “La idea es que hay un lugar donde la gente de distintas zonas se encuentra”, e os centros urbanos são estes locais, informa a pesquisa.
Se há um futuro das cidades no século XXI, feliz, sustentável, igualitário e desenvolvido, ele será necessariamente vivido com menos circulação de carros privados nas zonas urbanas, mais movimentações a pé, em transportes públicos e em modais de baixos impactos, com centros concentrados, em habitação e trabalho, e dinâmicos, em educação e cultura, onde convivam as diversidades humanas em usos de todo o tipo, compartilhando espaços e ambientes públicos e democráticos

Kleber Frizzera
Outubro 2019


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